23.9.08

DAS FLATULÊNCIAS

Nunca li nada de Abel que me interessasse. Também nunca procurei ler nada do autor. Tudo o que lhe li veio parar às minhas mãos por mero acaso. Umas crónicas em jornais e revistas, uns posts. Foi um dos autores do weblog que mais esteve para a blogosfera portuguesa como Dani para o futebol nacional: uma eterna promessa adiada. Procurei no Google e fiquei a saber que Abel é doutor, especialista e professa. Escreveu inúmeros ensaios, um livro de ficção a meias, outro em co-autoria, organizou e prefaciou muita coisa. Mais uma vez por mero acaso, leio-lhe a cólica. Começa assim: «O desânimo incurável caracteriza uma casta de escribas. Distraem-se, e a gente apanha-os a dizer que vão deixar de escrever porque ninguém os lê. Eu próprio já me distraí assim várias vezes.» É um bom começo. O cronista faz-se incluir numa suposta “casta de escribas” apanhados pelo desânimo. O problema é o que vem a seguir, pois Abel fala dos outros como se não estivesse a falar de si próprio. O leitor fica confuso. Afinal Abel revela-se Caim, quando tudo fazia prever o contrário. O dedo é apontado aos “rebentos” de uma tal “casta” incrementados pelos blogs. É apontado mas nunca chega a tocar na ferida, deixando-nos na expectativa sobre quem possam ser tais rebentos. Costume saborosamente português: apontar o dedo sem tocar nas feridas, deixar o boi mugir sem lhe dar nome. O que parece chatear Caim, perdão, Abel, é os blogs que acabam para recomeçar, no mesmo ou noutro lado. «Patético, caraças! Mas inocente.» Desabafa o escriba. O problema será um certo anseio de atenção, a falta de carinho, a desmotivação… no fundo, aquilo que, com as devidas variáveis, terá transformado a casmurrice num fantasma colectivo que pariu várias assombrações individuais. O pior, reflecte o escriba desanimado, é a casta (e ele a dar-lhe!) «dos que deixam transparecer em cada linha a noção engastada de que certo número de pessoas, de todo indeterminadas (como convém ao público), anseiam pelo que escrevem. E então chegam-se à frente a fazer habilidades. Um tédio.» Desânimo e tédio são o abismo do escriba. Mas pior ainda é o próprio Caim, perdão, Abel, que com a cólica enfadada e confusa nada mais faz senão chegar-se «à frente a fazer habilidades». E eu também, a postar sobre a crónica, embora animado e dando graças ao senhor pelo que ainda há de humano nos blogs – são diários, senhores, são diários! -, esse meio que certa outra casta provavelmente gostaria de ver transformada em coisa intelectual, enfadonha, reduzida a intuitos de auto e heteropromoção, coisa lá para a tertúlia que se reúne de quando em vez à mesa dos projectos, ou seja, mais um dos asfixiantes círculos fechados que há muito pululam no país. O resto não importa. São diários, senhores. São diários. Que raio de mania esta de censurar o pato por se limitar a ser pato. Nem o galo pode ser censurado por não pôr ovos nem o burro por não ser esperto. Os diários abrem-se com a mesma facilidade com que se fecham. Basta ler o de Pavese, que ainda há tão poucos dias fez anos. E os de agora até têm uma vantagem: fazem muito bem às cólicas. Sobretudo às verbais.

9 Comments:

At 1:20 da tarde, Blogger Filipe Guerra said...

O burro é muito esperto, toda a gente sabe, e só por isso pode ser censurado por não ser esperto. Abel Barros Baptista enredou-se um bocado nessa crónica, é verdade, mas é dos poucos críticos literários que eu leio com prazer.

 
At 1:27 da tarde, Blogger Luiz Modesto said...

Cólicas verbais...
Não me pareceu de todo desinteressante!

 
At 8:52 da tarde, Blogger Nuno Dempster said...

Estamos servidos de leitores, pelos vistos. Quando se escreve como Abel escreve, professor doutor e ficcionista manco, até Caim morreria enjoado, mesmo sem saber ler, Caim, aqui o da morte injusta porque inversa. Então que raio de nexo tem a metade inicial da croniqueta com a metade final? Essa mistela de arenga de falhado e gramática, sem um hífen a unir as duas partes, que são um todo divorciado imiscível e um exemplo de escrever mal e de vulgaridade ressabiada. E pagam por coisas dessas.

 
At 2:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Pagam e (não) bufam. Daí as "flatulências".
Aliás se a crónica "fratricida" é de uma revista que eu imagino, já se calcula os profes e gentinha bem-relacionada, que por lá grassa, salvo honrosas excepções.
Crónicas indigentes, mnesmo sem ser do mano bíblico, é o que mais lá há.

galo galardoado com 12 prémios e 50 menções honrosas

 
At 9:05 da manhã, Blogger L. said...

o guarda abel?

 
At 11:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não gostar do homem é normal (é um homem caprichoso), mas dizer que ele escreve mal , como diz o nd, é de imbecilidade tremenda, caramba.

 
At 12:44 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nem sei por que razão perco tempo com estas merdas, mas se o Casmurro é o Dani dos blogues o Insónia é o quê? o guarda-redes suplente do Vizela? o preparador físico do Campomaiorense? ou o Tobias, que jogava comigo à bola na escola primária e tinha um pé esquerdo do caraças?

 
At 8:54 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nem sei por que motivo o Osmond perde tempo com essas merdas.

 
At 10:52 da manhã, Blogger Nuno Dempster said...

Anónimo, é o que dá não se saber ler. Depois quem, lendo, pode ver naquela croniqueta uma peça desconjuntada é imbecil. E os outros imbecis, os que não sabem ler, são o quê? A imbecilidade elevada à 10.ª potência ainda é pouco.

 

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