3.2.06

Do arrependimento

Há pessoas que se sentem no direito de julgar outras pessoas como se elas mesmas não fossem pessoas. Como se estivessem uns metros bem acima da mais rasa humanidade. Apontam o dedo, acusam, invectivam, cospem se for preciso, achincalham. Essas pessoas, as que parecem esquecer-se de que são pessoas, confundem muitas vezes o espírito crítico com julgamentos pessoais. Os seus argumentos, quase sempre falaciosos, são geralmente ad hominem e, em última circunstância, ad baculum. Quando um ataque pessoal repercute outro ataque pessoal, essas pessoas recorrem ao seu espírito de cacete. Depois, sem grandes cerimónias, tocam de generalizar os seus preconceitos, as suas ideias feitas, os seus lugares comuns acerca dos outros. Sempre os outros, esse nosso interminável inferno. O mais interessante nas pessoas que se comprazem com o julgamento dos outros é aquilo a que se pode chamar o efeito cacarejante. Quais galos de peito inchado, as pessoas que fazem gala em julgar outras pessoas apontam sempre a unha ao próximo ao mesmo tempo que falam de si próprias. Ou seja, acusam este daquilo e daqueloutro dizendo que jamais seriam, são ou foram assim. Eu isto, eu aquilo, eu aqueloutro, porque tu aqueloutro, tu aquilo, tu isto. Julgar os outros é, as mais das vezes, um pretexto para falarmos de nós próprios, uma forma de nos pormos em bicos de pés, quais bailarinas, na ópera do desaguisado. É como cantavam os Xutos & Pontapés: «Eu cá sou bom / Sou muito bom / Eu cá sou bom, / Sou muito bom / Sou sempre a abrir!» No fundo, somos todos os maiores, somos todos mesmo muito bons, somos todos completa e inequivocamente geniais. Os outros é que são o problema, a causa de todos os males, a escória, o sarro da latrina. Pois eu acho que grande parte dos problemas do mundo vem do esforço hercúleo que fazemos para julgar os outros. Se esse esforço, se essa energia, fosse aplicada, não como auto-complacência, mas como, se quiserem, auto-ironia, no sentido do reconhecimento dos nossos defeitos, dos nossos vícios mais íntimos, talvez isso nos ajudasse a melhorar um pouco o mundo à nossa volta. É nesse sentido que julgo ser o arrependimento a mais desinteressada atitude do espírito humano. Para alguns, o arrependimento é um sinal de debilidade intelectual. Por outro lado, há os que notam no arrependimento uma certa dignidade, para não dizer coragem. Pessoalmente, desconfio das pessoas que asseveram nunca se arrependerem. O arrependimento é não só uma das razões de sermos livres, mas também, se virmos melhor, aquilo que mantém consistente a nossa própria humanidade. É a consciência de que poderia ter agido de outra forma e o princípio pelo qual procurarei redefinir o oriente que deverá reger as minhas acções futuras. Daí que a última e mais importante lição a retirar da relação com os outros, deva ser sempre esta: «O nosso grande erro é querer encontrar em cada um, em especial, as virtudes que ele não tem e desinteressarmo-nos de cultivar as que ele possui.» (Marguerite Yourcenar)

2 Comments:

At 5:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

o melicias cheira mal da boca.morra o melicias,mmMMMOORRRAAA O MELICIAS!PIM!o que e que e um herberto helder larvar lobotomizado mongaloide?
ass:o coisinho da anaconda emplumada

 
At 10:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

ó coisinho à que tempos não te via!!!! espero que esteja tudo bem.

Aurora

 

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