3.2.06

BEBENDO VINHO COM ALGUNS CONTEMPORÂNEOS

Os malefícios da multidão.
As sequóias sequiosas na sequência das secas.
As consequências de um choro na configuração do rosto.
A erva destrói o exterior da moradia.
O tédio é fraca compensação dos compromissos.

Que dizeis a este fim de caminho, onde o escritor recupera
a verdadeira solenidade da Afirmação?
Não conheço outro modo de escrever, isto é,
de substituir ao arrojo invertebrado da juventude
a coragem de uma lúcida conveniência. Assim,
renuncio ao pessimismo em proveito de outros sentimentos
mais fecundos – o nojo, o orgulho, o desejo nunca satisfeito.

Se acaso me ouvis
- não terei eu razão?

Nuno Júdice

Nuno Júdice nasceu em 1949, na Mexilhoeira Grande (Algarve). Formou-se em Filologia Românica pela Universidade Clássica de Lisboa. É professor da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval. Tem publicado poesia, ficção e estudos sobre teoria da literatura e literatura portuguesa. Publicou antologias, como a da poesia do Futurismo português, edições críticas, e tem uma colaboração regular em jornais e revistas com críticas de livros e crónicas. Tem livros traduzidos em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e em França, onde está publicado na colecção Poésie/Gallimard com Un chant dans l’épaisseur du temps. Para além de receber os mais importantes prémios de poesia portugueses, foi finalista do Prémio Europeu de Literatura, Aristeion (1994). O seu primeiro livro de poesia data de 1972. »