5.1.06

capriccio a

«pan-pan-te-te-te-te-ra», gaguejava
um epí-pí-pí-pí-pí-go-gono triste,
«a con-con-di-di-ção es-cra-cra-cra-va,
al-gu-gu-gu-ma vez sen-tis-tis-tis-te?

ven-do o chi-chi-chi-co-co-tem ris-ris-te
que o tra-tra-tra-tra-dor des-des-tra-tra-va?
a tu-tu-tu-a fau-fau-ce bra-bra-va
quan-quan-quan-tas ve-ve-zes a-bris-bris-te?

é cer-to-to-to que eu ga-ga-gue-gue-jo,
to-to-da-vi-vi-via pre-ve-ve-jo
que-que vais mor-mor-der o en-go-go-go-do

e à noi-noi-noi-te fi-fi-fi-carás
so-sob o bi-bi-co de ga-ga-gás,
pois tem-tem-tens o tem-tem-po-po todo».

Vasco Graça Moura

Vasco Graça Moura nasceu na Foz do Douro em 1942. Licenciado em Direito, actividade que chegou a exercer, tem desempenhado várias funções políticas e sociais ao longo da sua vida. É autor de obras de ensaio, poesia, romance e ainda de traduções. Paralelamente, tem desenvolvido uma ampla intervenção pública como comentador e analista político. A sua obra iniciou-se em 1963, com o título Modo Mudando, a que se seguiram, entre outros, O Mês de Dezembro (1977), Naufrágio de Sepúlveda (1988) ou Uma Carta no Inverno (1997, prémio de Poesia APE/CTT de 1997). Distinguindo-se publicamente como tradutor, amplamente consagrado, as suas traduções da Vita Nuova e da Divina Comédia de Dante (1995) mereceram-lhe a atribuição do Prémio Pessoa, em 1995. O seu livro de poesia mais recente, Laocoonte, rimas várias, andamentos graves (2005) foi amplamente elogiado pela crítica.